Uma testemunha da Cruzada das Crianças no século XIII
- Taís

- 11 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
Beto sentia uma profunda tristeza sem nenhum motivo aparente sempre que se aproximava seu aniversário. Sua psicanalista já havia investigado esse sentimento mas não chegavam a nenhuma resposta satisfatória.
Fui contatada pela psicanalista para ajudar no diagnóstico e, com a autorização de Beto, entrei em seus registros akáshicos. O relato abaixo está na ordem mais fácil para compreensão, mas foi necessária uma boa dose de pesquisa para entender o contexto histórico e reconstruir a narrativa do ponto de vista de Beto.
Beto era um nobre inglês com menos de 20 anos. Como na Idade Média as pessoas viviam pouco, era considerado "adulto" o suficiente. A época era do mítico Rei Ricardo I Coração de Leão que ouvimos nas histórias de Robin Hood.
Uma questão que me intrigava era que eu sabia que Beto havia nascido na Europa Continental e não nas ilhas onde hoje está o Reino Unido. Ao mesmo tempo, não havia dúvidas de que ele era um nobre inglês. Fui investigar, pois esse fato poderia transformar em apenas metáfora uma história que me parecia verídica enquanto eu acessava os registros akáshicos. E qual não foi minha surpresa ao descobrir que na Alta Idade Média, boa parte do que hoje conhecemos como França estava sob domínio inglês! Percebi também que a província francesa da Bretanha, herdou esse nome da época em que era parte da Grã-Bretanha, claro!
O contexto histórico: o Rei Ricardo Coração de Leão viveu a maior parte do tempo na Europa Continental e é conhecido por ter sido um rei cristão muito devoto, que liderou a Terceira Cruzada (1189-1192), também conhecida como Cruzada dos Reis, pela participação dos três principais soberanos europeus da época: Filipe Augusto (França), Frederico Barba Ruiva (Sacro Império Romano Germânico) e Ricardo Coração de Leão (Inglaterra). Não conseguiram recuperar Jerusalém, mas recuperaram vários territórios orientais para a Igreja Católica.
Nada como a distância e o passar dos séculos para tornar pio um rei que não foi menos ambicioso e sanguinário que seus adversários muçulmanos...
No caminho para a Terra Santa, Ricardo Coração de Leão cruzou um largo território e acredito que não apenas Beto ouviu as românticas lendas do mítico rei, como é possível que sua família tenha hospedado os cruzados, inspirando Beto ainda criança a seguir o mesmo caminho no futuro.
Algum tempo depois, fala-se da Cruzada dos Inocentes ou Cruzada das Crianças. Para justificar as derrotas anteriores, difundiu-se a lenda de que o Santo Sepulcro só poderia ser conquistado por crianças, pois estas estariam isentas de pecados, sendo assim protegidas por Deus. Segundo a Wikipedia: A Cruzada das Crianças é o nome dado a um conjunto de fatos misturado com fantasia que ocorreram no ano de 1212. Dessa combinação resultaram vários relatos com elementos em comum: um rapaz conduzindo um vasto grupo de crianças e jovens menores de idade marchando com o objetivo de libertar a Terra Santa (Jerusalém) e que culminam com a morte das crianças ou a sua venda para a escravatura. Existem várias versões divergentes e os próprios fatos que deram origem às lendas continuam a ser debatidos pelos historiadores.
Entendido o contexto, voltamos à história de Beto. Ele foi convencido pela Igreja a liderar um desses grupos de crianças e adolescentes. No caminho para Jerusalém, passou por vários reinos e feudos e foi angariando jovens da nobreza de "coração puro" para a "guerra santa". Pelo que vi, era um misto de crianças maiores e adolescentes, indo de 8 até uns 14-15 anos.
Chegando em Jerusalém, como você pode imaginar, esse "exército" foi massacrado.
Eu "aterrissei" na história no momento em que boa parte do seu "exército" havia sido dizimado e Beto se perguntava se deveria seguir com a batalha - e deixar todo mundo morrer - ou retirar-se. Essa primeira batalha ocorreu em data próxima ao aniversário do Beto da época e deveria ser seu maior presente... Por isso, quando o aniversário dessa e de várias outras vidas se aproxima, ele se lembra da chacina que criou e é tomado por uma profunda tristeza que atravessa o tempo e a história.
Após essa primeira e única batalha, Beto se deu conta da insanidade de levar um monte de crianças diretamente para a morte bem longe de casa. Em algum momento, ele entendeu que a Igreja havia levado toda essa gente a acreditar que era uma "guerra santa", quando o interesse real era assassinar essa geração de jovens nobres para se apropriar dos bens dessas famílias.
Além do intenso trauma do evento em si, isso gerou em Beto uma crise de FÉ porque ele não soube separar a Igreja de Deus. Passou a culpar Deus pelo ocorrido e essa crise perduraria até os dias de hoje.
Perguntei então qual a principal lição a aprender dessa experiência? A primeira coisa é não ser enganado por uma igreja ou uma religião ou uma fé cega.
É preciso usar sempre o discernimento.
Em seguida, o guia de Beto começou a falar de Jesus. Disse que Cristo está nos bons princípios, em qualquer lugar, em qualquer pessoa, independente do quão humilde ela seja. Suponho que isso se refere à interpretação do Beto medieval de que apenas a nobreza tinha bons cristãos. E terminou dizendo:
Cristo está nos muçulmanos também. Eles são seus irmãos.
Agradeci e saí dos registros akáshicos de Beto, encharcada de lágrimas pelo trauma que ele passou e pela beleza do ensinamento de seu guia.
Quando visito outra vida, minha consciência é transportada para a cena e tenho todos os sentidos ativos. Além de ver, sinto a temperatura, o vento, cheiros, gritos e o desespero de quem estava lá. Pode ser uma experiência muito intensa, por isso há um protocolo cuidadoso para minha proteção. Ainda que eu possa ficar muito emocionada com o que presencio, não fico traumatizada com os fatos.
A compreensão dessa questão ajudou a psicanalista de Beto a definir um escopo de trabalho e ajudá-lo na ressignificação e superação de todos os sentimentos associados a essa experiência.

